O Caminho do Sertão 2022

O que é? 

O “Caminho do Sertão” é uma imersão sócio-eco-literária no universo explorado pelo escritor mineiro João Guimarães Rosa que abrange os Vales dos rios Urucuia e Carinhanha. O programa explora o âmbito geográfico do território situado no Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu (MSVP). O Mosaico é uma estratégia territorial que abrange um conjunto de áreas protegidas na margem esquerda do Rio São Francisco, entre as regiões norte e noroeste de Minas Gerais e parte do sudoeste da Bahia, e tem como objetivo conciliar, em uma proposta de gestão integrada e participativa do território, a proteção da biodiversidade com a valorização cultural e social das comunidades locais.

Durante sete dias, os participantes caminham pelo universo tão bem descrito no livro Grande Sertão: Veredas, principal obra de Guimarães Rosa. Sob o sol do Sertão, sobre a areia das veredas sertanejas, entre mitos e realidades locais, sorrisos e abraços fraternos, a jornada proporciona um encharcar-se de Sertão e de Ser Tão. A experiência única permite o contato direto e a vivência com a terra, a geografia, a flora, a fauna, o povo e a cultura do Sertão. Em cada pouso nas comunidades percorridas, a travessia se entrelaça aos saberes e fazeres do povo geraizeiro – designação dada a moradores dos Gerais, região compreendida como parte norte/noroeste do estado de Minas Gerais – e veredeiros - designação dada aos moradores das veredas.

No percurso, o participante do Caminho do Sertão, também chamado de “caminhante”, entra em contato com a sócio biodiversidade do cerrado, em que se fundem veredas de buritizais, rios, vilarejos, fazendas do agronegócio, unidades de conservação, comunidades tradicionais, assentamentos de colonização e de reforma agrária, áreas ocupadas por posseiros e propriedades de agricultura familiar. A travessia pelo Sertão é a oportunidade para se despertar o olhar para o meio ambiente, para a crise hídrica e o processo de desertificação que ameaçam a região, para refletir acerca das mudanças necessárias para manter os cursos d’água e os ativos ambientais.

Assim, uma jornada literária “de Sagarana ao Grande Sertão: Veredas” nos leva da primeira obra em prosa até a mais volumosa das obras de João Guimarães Rosa: o único romance, denominado de romance de formação. Propõe-se uma jornada em que percorre parte do caminho realizado por Riobaldo e seu bando de jagunços rumo ao Liso do Sussuarão – suposto deserto do Grande Sertão: Veredas. A travessia passa pelo Rio Urucuia – o rio do amor –, pela Serra das Araras e pelo Vão dos Buracos. Uma jornada em terras marcadas por movimentos, deslocamentos e giros, por presenças em travessias, a revelar que o deserto é não-deserto, terra de um povo geraizeiro, onde natureza e humanidade estão imbricadas, terra de cultura! Dessa forma, a travessia do Sertão proporciona o encontro com as estórias de Guimarães Rosa, com as estórias e histórias do povo sertanejo dos Gerais e, ainda, com as trajetórias e visões pessoais de cada um dos caminhantes.

Desde 2014, a jornada busca, anualmente, entusiastas da literatura rosiana, pesquisadores, estudiosos, artistas, ativistas, poetas, caminhantes e amadores (do verbo amar) e interessados pela dinâmica do cerrado e suas questões socioambientais, com o fito de ofertar-lhes uma experiência impactante do ponto de vista de uma travessia existencial. Em cada edição, que é anual, são selecionados, por meio de Edi tao, até 60 participantes para realizar a caminhada.

Organizado pelo Instituto Rosáceas com o apoio de parceiros diversos, o Caminho do Sertão adquiriu grande importância para as comunidades do entorno da rota e tem o papel central de divulgar a cultura e os costumes sertanejos, promover a autoestima desta população e mobilizá-la para o protagonismo socioambiental em defesa da cultura regional, do cerrado em pé e de suas veredas vivas. Para além dessa dimensão, o caminho tem uma importância econômica para as comunidades pertencentes à rota, pois durante os períodos de preparação e realização da travessia, dezenas de trabalhadores são mobilizados para a preparação da rede de hospitalidade, para o desenvolvimento de apresentações culturais e de suporte à organização e aos caminhantes.

A construção de dinâmicas de inclusão produtiva é exercitada na realização do Caminho ao mobilizar as comunidades e seus diversos atores como cozinheiras, guias, foliões, motoristas, agentes de saúde e outros que são imprescindíveis na logística da caminhada. De uma forma simples, respeitosa, dinâmica e solidária, os moradores são inseridos para contribuir ativamente na rota com as suas potencialidades. Isso possibilita que a renda gerada não seja concentrada nas mãos de poucas pessoas; mas, sim, distribuída por um número grande de pessoas das comunidades e moradores envolvidos.

Por que apoiar?

A 7ª edição d’O Caminho do Sertão acontecerá em julho de 2022 e receberá pessoas de diferentes lugares do Brasil, em uma seleção democrática, realizada por meio de edital. A imersão no Sertão atravessa sete dias e sete noites, numa efervescência de emoções e afetos, num processo de profunda troca entre o Ser Tão, os caminhantes e as comunidades. Para a participação dos caminhantes selecionados, é solicitada a contribuição de uma taxa social , porém, a fim de buscar a participação de entusiastas que, por motivos financeiros, deixam de inscrever, o Instituto Rosáceas oferece 5 bolsas integrais e 5 bolsas de 50% do valor. Ressalta-se que os recursos arrecadados por meio das inscrições não são suficientes para cobrir todos os custos de pré-produção e a logística de execução da jornada.

A campanha de financiamento coletivo vai ajudar ainda nos custos de transporte (combustível dos carros de apoio), na alimentação, na reforma e implementação dos receptivos comunitários. Os veículos apoiam os caminhantes no abastecimento de água, alimentos e ainda no transporte das bagagens, cruzando territórios de difícil acesso. Além da caminhada, teremos rodas de prosa e apresentações culturais tradicionais.

Turismo de Base Comunitária e a relação com as comunidades: 

Nos anos de 2020 e 2021, devido à pandemia do Covid-19, ficamos impossibilitados de realizar as edições d’O Caminho do Sertão e outras expedições ao território. Apesar disso, no último período, trabalhamos para melhorar os receptivos turísticos da região, a fim de garantir uma boa acolhida para os caminhantes do Sertão, mas também para outros amantes do território. Norteados pela metodologia do Turismo de Base Comunitária (TBC), trabalhamos ativamente para tornar a região, que é cenário do “Grande Sertão: Veredas”, um importante polo de turismo cultural e de difusão da cultura sertaneja e da obra rosiana. Além disso, em nossas ações, priorizamos sempre a contratação, a remuneração e o investimento nas comunidades e nos moradores, pois enxergamos no TBC uma forte alternativa de desenvolvimento socioeconômico e comunitário, um importante mecanismo de melhoria da qualidade de vida nessas comunidades. Lembramos que, para a alimentação oferecida na travessia (café da manhã, almoço e jantar), prioriza-se a aquisição de produtos locais.

Destaca-se que parte do recurso arrecadado por meio desta campanha será utilizado para a reforma e implementação de novos receptivos turísticos (Tecnologia Social Multifuncional Geodésica Sertaneja, banheiros com fossas de evapotranspiração, cozinhas comunitárias entre outros) a fim de garantir uma estrutura que permita receber bem os caminhantes e outros turistas do Sertão e que possa ser utilizada como instrumento comunitário para usos múltiplos.