MONÓLOGO MUSICAL REÚNE QUATRO CRAQUES DO HUMOR
A peça “O baterista” – que juntou Celso Taddei, Antônio Fragoso, Diego Molina e Alexandre Regis – estreia em março no Teatro Poeira, em Botafogo
O que têm em comum Robertinho Silva, João Barone e Igor Cavalera? Com certeza, todos enfrentaram problemas com os vizinhos reclamando de barulho. Afinal de contas, todos têm em comum a bateria como instrumento, ferramenta de trabalho e meio de expressão. Também têm “um pouco de torneiro mecânico, funileiro e mestre de obra", como diz o texto de Celso Taddei no monólogo “O baterista”, que estreia no Teatro Poeira, em Botafogo, no dia 3 de março, com sessões às terças e quartas-feiras, às 21h. E com intérpretes de libras nos dias 17 de março e 15 de abril.
O espetáculo foi idealizado pelo autor Celso Taddei, ex-roteirista do “Zorra”, programa da TV Globo, e demorou dois anos para ser montado. Taddei reuniu outros três craques do humor com os quais trabalhou no programa: o roteirista Diego Molina, que assumiu a direção da peça; e os atores Antônio Fragoso – que divide a produção com o autor e é “o baterista”, único ator em cena – e Alexandre Regis, que faz a assistência de direção.
Desse encontro, saiu do papel uma reflexão filosófica feita por um baterista que liga seu instrumento a toda mecânica da vida. E por que filosofar – com humor – utilizando a música, o ritmo, as batidas de uma bateria? Para o autor Celso Taddei – um apaixonado por música que toca mal vários instrumentos –, a bateria é um instrumento “dramaturgicamente interessante e complexo por causa de seu tamanho e porque faz muito barulho”. Além do mais, Taddei acha curioso o envolvimento de uma pessoa, durante toda a vida, com um instrumento; sobretudo quando se trata de um baterista, aquele que é “sempre o primeiro a chegar e o último a sair do estúdio”. Essa característica solitária dos bateristas é, de cara, um ótimo gancho para um monólogo.
Foi com todas essas ideias na cabeça, mais o amor pela música e a inspiração de autores como Tchekov e Patrick Süskind que Taddei resolveu esmiuçar o pensamento de um baterista louco por seu instrumento, com o qual tem um “relacionamento quase neurótico”. Assim, ele escreveu “O baterista”, que serviu, na medida, para o talento do ator Antônio Fragoso, com quem divide a produção do espetáculo, que não conta com patrocínio.
Para Fragoso, foi fácil entrar no personagem. Nos anos 1980, em Brasília, quando morava na mesma quadra de Herbert Vianna, Bi Ribeiro e Dado Villa-Lobos, ele fez parte de duas bandas de rock: Os Sociais, que montou com Pedro Ribeiro (irmão do Bi, dos Paralamas) e Fernando Bola, e Escola de Escândalo, da qual saiu porque o pai dele, diplomata, havia sido transferido para a Espanha. Foi Pedro Ribeiro, aliás, que incentivou Antônio Fragoso a assumir a bateria, uma vez que ele já tocava tarol na banda marcial do Colégio Marista.
A direção é de Diego Molina, um dos roteiristas do “Zorra”, o que possibilita um ótimo entrosamento na equipe: “a gente já sabe como o outro funciona melhor, os maneirismos do ator, o ator já conhece o tipo de texto e de direção”. Ele também cuidou da cenografia ao lado de Patrícia Muniz. Para o texto realista, que tem como cenário a garagem da casa do pai do personagem/baterista, Molina resolveu utilizar “estranhezas para acentuar a teatralidade”. Tais “estranhezas” estão na luz, no cenário, nas marcações. Tudo na intenção de “deixar tudo mais lúdico”, como ele explica. O diretor usa a expressão “partiturando” para se referir a seu modo de trabalhar, em que cada gesto é estudado, e nada é gratuito. Molina diz também que as marcas são feitas através do som, e que a música faz parte do cenário, oferecendo experiências sonoras diferentes”.
A trilha sonora, aliás, foi escolhida com cuidado, com alguns standards do início do ragtime, contextualizando a história da formação da bateria. “Preferi os clássicos para ajudar as pessoas a se situarem. Cada música foi escolhida como símbolo de determinada época, de determinada banda”, explica o autor Celso Taddei. Por isso, ele acha que o espetáculo ficou “divertido de ver e ouvir”. No repertório, há pot-pourri de canções dos Beatles e muito rock’n’roll: de Bill Haley a Led Zeppelin, passando por The Who, Cream, Sex Pistols, Black Sabbath, The Police e Nirvana. Bandas brasileiras – como Titãs e Paralamas do Sucesso – também marcam presença na trilha de “O baterista”.