Sobre a minha história
Eu mal tinha saído da infância quando percebi que a educação era a única forma de mudar a minha realidade e da minha família. Meu pai era alfaiate, minha mãe doméstica. Eles, meus três irmãos e eu dividíamos o único quarto da casinha alugada. O ensino médio técnico era disputado, e eu sabia que precisava fazer um cursinho preparatório. Para pagar o cursinho, consegui um trabalho como babá de 3 crianças pequenas. Eu tinha 14 anos de idade. O dinheiro para as mensalidades estava garantido, mas e as passagens de ônibus? Foi então que meu pai veio com a solução: “Eu divido meu vale transporte com você”. Meu pai, que era alfaiate e tinha que atravessar São Paulo para chegar no emprego, nunca me disse como ele fazia para terminar o trajeto sem um dos ônibus. Sei que ele caminhou muito para que, com tudo que ele podia, pudesse me proporcionar o estudo que nós tanto sonhávamos. Foi nessa caminhada de luta do meu pai, da minha mãe e de meus irmãos que eu terminei o curso técnico, comecei a trabalhar e, depois de três anos de cursinho, entrei na universidade, em 2003. Eram tempos sem cotas e eu era a única negra de uma sala de 50 alunos do curso de Jornalismo da Unesp, em Bauru.
Até trabalhar com telemarketing, consegui me manter com a ajuda de amigos que me enviaram o pouquinho de dinheiro todo mês. De dez em dez reais, essas pessoas tão humildes como minha família me diziam que era muito importante eu estar ali. Acontecesse o que acontecesse, eu não poderia desistir. Contrariando todas as circunstâncias, não desisti. Como trabalho de conclusão de curso, decidi estudar o racismo estrutural e suas consequências na cobertura midiática especializada em saúde. Antes de terminar a faculdade, eu já tinha passado em um concurso público no Banco do Brasil. No dia da formatura, minha mãe e meu pai levantaram junto comigo o canudo . “Nós conseguimos”, eu disse a eles.
Seu Tica e Dona Ana, orgulhosos, durante a minha formatura de graduação - Março/2007
Depois veio o mestrado, também na Unesp, as aulas como professora voluntária no cursinho gratuito, o doutorado na UnB e a bolsa de pesquisa na Universidade de Tulane, em New Orleans. Fiquei nos Estados Unidos durante um ano estudando e viajei para muitos lugares do mundo apresentando minhas pesquisas sobre genocídio de jovens negros no Brasil e nos EUA. Quando retornei, trabalhei como professora universitária e comecei a trabalhar na área de Comunicação do banco, onde colaborei com a criação de projetos que garantem a participação e a representatividade de negros - especialmente de mulheres negras - nas agências bancárias espalhadas pelo país. Por conta da minha atuação, entre centenas de candidatas, fui selecionada para participar do curso Columbia Women’s Leadership Network, um curso de liderança na Columbia University, em Nova York, que vai contribuir muito para meu trabalho no desenvolvimento de políticas públicas que garantam mais oportunidades para negras e negros.
Eu e minha mãe na minha defesa da dissertação do mestrado - Novembro/2010
Sorriso estampado com a realização de um sonho: estudar no exterior em uma universidade renomada como a Tulane University - Agosto/2015
Mas, mais uma vez, se quiser chegar lá, vou precisar de muita ajuda. Por isso, peço sua contribuição. Como contrapartida à sua doação, me comprometo a continuar lutando por país onde não seja aceitável uma vereadora negra ser assassinada por ter decidido não se calar diante da misoginia, homofobia e racismo estrutural do estado. Vou continuar lutando por um país onde não seja comum uma família negra ser alvejada com 80 tiros “por engano”.
Apresentação final da minha pesquisa do doutorado-sanduíche na Tulane University - Fevereiro/2016
Quando eu estiver na Columbia, toda essa rede de gente guerreira que me apoiou até aqui vai estar comigo. Meu pai - já em outro plano - e minha mãe também. Em nome de tudo que eu posso representar, em nome de todas as mulheres negras que ficaram pelo caminho, na hora em que falarem meu nome, eu levantarei meu punho fechado: “Presente!”.
Entrega da tese de doutorado - Novembro/2017
Curso: Módulo Internacional NYC – Columbia Women’s Leadership Network in Brazil
Onde: Columbia University – New York – Estados Unidos
Custos: R$ 24 mil (R$ 20 mil para o curso e R$ 4 mil para as despesas com hospedagem)
Observação sobre os custos: Minha meta inicial foi alterada para R$ 24 mil considerando o desconto de 25% que recebi da Columbia University, a doação das passagens aéreas e de outras doações realizadas de diferentes formas. Seja qual foi o caminho que você escolheu para fazer sua contribuição, meu sincero obrigada. Você está tornando esse sonho possível.
O que é o curso e como ele vai me ajudar?
O curso Columbia Women’s Leadership Network in Brazil apresenta estratégias pessoais e coletivas para viabilizar a articulação e o posicionamento necessários dentro dos espaços deliberativos de políticas públicas. Em outras palavras, a formação vai me proporcionar conhecimento prático para potencializar meu trabalho na luta por políticas que garantam oportunidades para negras e negros no Brasil.
Período do curso: julho/2019
Período de arrecadação: 16/04 a 23/06