Meu nome é João Pacheco Becker, tenho 24 anos e sou estudante de Psicologia na Unisinos. Gostaria de compartilhar um pouco da minha história com vocês. No dia 01/07/2018, por volta das 3 horas da manhã, sofri um acidente que mudou por completo minha vida. Eu caí de uma altura de 10 metros. Impressionantemente, sobrevivi a essa queda, contudo fraturei a coluna T9 e lesionei por completo a medula perdendo todos movimentos abaixo do peito. Também sofri traumas no pulmão e fígado. No dia 3/07, fiz uma cirurgia para estabilizar a coluna. A cirurgia foi bem-sucedida e a partir daquele momento iniciei a minha recuperação e meu aprendizado de como seria viver com uma lesão medular em uma cadeira de rodas. Foi difícil, duro e triste mas tive a sorte de contar com a ajuda da família e de amigos próximos e de outros nem tão próximos.
Depois de um mês no hospital, iniciei com a fisioterapia para recuperar minha autonomia e aprender como lidar com essa situação. Aterrissei em um planeta desconhecido. Primeiro iniciei com fisioterapia física e urológica em Porto Alegre e em outubro de 2018, fui para São Paulo onde fiquei dois meses fazendo um trabalho de reabilitação no Hospital Lucy Montoro. O programa de reabilitação foi muito importante e com muitas conquistas. Na volta, retomei a fisioterapia com muitas horas semanais e que também me proporcionou muitos ganhos. A fisioterapia foi intensa até 2020 quando diminuiu devido à pandemia e foquei mais na musculação. Sempre fui uma pessoa ativa e procurei me manter ativo mesmo depois do acidente.
Com isso e com toda a ajuda que recebi, enfrentei essa situação de uma forma mais positiva e sempre buscando soluções invés de problemas. Contudo, a lesão medular traz problemas diversos além do não poder caminhar. Tenho dores neuropáticas devido à má postura pois fico muito tempo sentado. Preciso também ter cuidado com infecções urinárias pois a sondagem urinária pode causar infecções.
Apesar de muitos médicos me falarem que a lesão medular não tem cura e eu ficaria ‘’preso’’ a cadeira de rodas pelo resto da minha vida, eu acreditei em alternativas e fui atrás de possíveis tratamentos. Encontrei um tratamento inovador chamado estimulação epidural ( https://epiduralstimulationnow.com/treatment/), em que 16 eletrodos são colocados diretamente na medula junto com uma bateria recarregável. A ideia desse tratamento é mapear os movimentos necessários para caminhar,ficar de pé e ativar músculos que são usados no dia a dia. Esse mapeamento é a parte mais complicada do tratamento pois verifica diferentes configurações dos eletrodos( em que 16 vão ser ativados) e as variáveis da corrente elétrica (frequência,largura de pulso,intensidade e polaridade dos eletrodos.). A partir desse mapeamento e encontrando a contração dos músculos necessários para ficar de pé e caminhar, 12 programas são escolhidos pelo paciente. Ativando esses programas, como por exemplo o programa para ficar de pé, os eletrodos necessários são ativados fazendo uma ponte onde existe a lesão medular, sendo possível contrair voluntariamente os músculos necessários e ficar de pé só com o auxílio de um andador ou muleta. Depois de mais de um ano acompanhando as pesquisas e resultados do tratamento, decidi que faria de tudo para realizar esse tratamento e possivelmente recuperar os movimentos das pernas e futuramente voltar a andar. Com ajuda de amigos próximos e nem tão próximos consegui arrecadar a verba necessária para realizar a primeira parte do tratamento.
No final de 2021, embarquei para o México fazer a cirurgia para implantar um dispositivo de estimulação epidural e células troncos pela empresa Verita Neuro (https://epiduralstimulationnow.com/treatment/). Fiquei duas semanas internado em um hospital em Guadalajara onde ocorreu a cirurgia para a implementação dos eletrodos e bateria na medula; também foi aplicado duas doses de célula tronco( células virgens não codificadas) para a regeneração do tecido da medula onde houve o rompimento. No hospital começamos a fazer o mapeamento dos movimentos e pela primeira vez em 3 anos da minha lesão consegui movimentar minhas pernas voluntariamente. Naquele momento transbordava felicidade e eu já tinha noção da imensa porta que estava se abrindo para minha reabilitação e meu sonho de voltar a caminhar. Depois dessas duas semanas de hospital fui para um hotel onde aconteceu todas sessões de mapeamento e fisioterapia. No hotel, iniciamos as primeiras sessões, e comecei a contrair diversos músculos e criando diversos programas. Foram 4 semanas de muita fisioterapia e esforço, cinco horas de fisioterapia por dia, e logo achamos as contrações necessárias para ficar de pé e pela primeira vez consegui ficar de pé sem auxílio de um andador. O objetivo inicial foi criar programas específicos para o quadríceps, psoas, glúteos, panturrilha, lombar e abdominal. Fazia três anos que estava sentado em uma cadeira de rodas e precisava fortalecer todos esses músculos para suportar o estímulo de ficar de pé e caminhar. Em questão de algumas semanas, passei de uma lesão completa onde não existia nenhum movimento abaixo do peito para uma lesão incompleta onde teria um oceano de possibilidades.
Na volta para Porto Alegre, continuei o tratamento com fisioterapia com objetivo de ganhar a força e resistência muscular necessária para voltar ao México e fazer a reconfiguração dos eletrodos para ter um programa que eu consiga caminhar e ficar de pé com mais autonomia e sem o apoia de um terceiro/fisioterapeuta. Com a fisioterapia, obtive um resultado excelente e ganhos muito satisfatórios, estou conseguindo ficar de pé com auxílio de um andador por mais de uma hora. Estou caminhando com o auxílio do meu fisioterapeuta, ganhei muito equilíbrio e ativação de abdominal e lombar que é essencial para ter mais autonomia e segurança no dia a dia. Também, já estou conseguindo levantar 4 quilos com o quadríceps conhecido como o aparelho de musculação chuta-chuta. Com todos estes ganhos, finalmente estou pronto para voltar para o México e fazer a reconfiguração dos eletrodos, para ser possível começar a caminhar sem auxílio no meu dia a dia. Essa segunda parte do tratamento dura em torno de três semanas e o custo final com as células troncos fica em torno de USD: 55.000 (Cinquenta e cinco mil dólares) . Gostaria de contar com a ajuda de todos para que eu possa seguir em busca do meu sonho de voltar a caminhar e ter uma vida em pé!
Gostaria de salientar que toda contribuição será bem-vinda, e desde já agradeço o apoio a essa oportunidade única.
Se tiverem interesse, é possível ler a história do João e acompanhar a sua recuperação pelo site https://www.caringbridge.org/visit/joaopachecobecker, onde a mãe dele, Mara Becker, posta “updates” diários dele!