Foto1: Reza de Santa Cruz, no Quilombo Pilões, em Iporanga (SP). Crédito: Felipe Leal.
Há mais de 400 anos, as comunidades quilombolas do Vale do Ribeira vivem e resistem nessa região, lutando contra a escravidão e modelos de desenvolvimento baseados apenas no acúmulo do capital e na exploração do ser humano e do planeta. Os quilombolas lutam por seus direitos, praticando sua cultura e valorizando o saber tradicional. São guardiões da floresta, mantendo a agrobiodiversidade, conservando o solo produzindo alimentos saudáveis livres de veneno e protegendo a Mata Atlântica, em benefício de toda a sociedade. Segundo a Coordenação Nacional de Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), existem no Brasil cerca de 6 mil quilombos, mas menos de 200 estão titulados, o que evidencia a necessidade e a importância da luta pela terra. Com a garantia do território, a cultura e o modo de vida tradicional se materializam na prática, pois é nesse espaço que as comunidades fazem suas roças de coivara, manejam os cipós, plantas medicinais, sementes, promovem o trabalho coletivo em forma de mutirão, expressam suas danças e músicas.
Foto 2: Vista da primeira feira de troca de sementes, realizada em 2008 no município de Eldorado (SP)
De acordo com o modo de vida tradicional quilombola, a roça de coivara se baseia no plantio em pequenas áreas, onde a própria vegetação e o fogo são fonte de nutrientes para o solo e para as variedades agrícolas. As restrições da legislação ambiental dificultam a prática da roça de coivara e motivaram as comunidades a se organizarem, juntamente com seus parceiros, para a realização da feira de troca de sementes e mudas tradicionais em 2008. Trata-se de uma estratégia para sensibilizar os gestores públicos sobre a importância das práticas agrícolas tradicionais para a conservação da agrobiodiversidade, por meio de seminários, apresentações de pesquisas, oficinas, entrevistas, diálogo entre os agricultores e parceiros e pela troca de mudas, ramas e sementes.
Foto 3: Mutirão de colheita de arroz no Quilombo Morro Seco, em Iguape (SP). Crédito: Marília Senlle/ISA.
A feira é organizada pelo GT da Roça, um grupo que reúne as comunidades quilombolas e seus parceiros. Ao longo de 11 anos de realização da feira, os quilombolas puderam discutir e celebrar alguns resultados: o avanço na legislação para a autorização da supressão de vegetação necessária para as roças de coivara, a criação do paiol de sementes, o envolvimento dos jovens, a valorização do papel das mulheres, valorização da gastronomia tradicional, a produção de alimentos saudáveis, o resgate de sementes que já não existiam em alguns territórios, o reconhecimento pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional) do Sistema Agrícola Quilombola como Patrimônio Cultural Brasileiro (saiba mais em https://www.youtube.com/watch?v=0B0ydEoqJ8E), entre outros.
Foto 4: Processamento de farinha de mandioca, no Quilombo Nhunguara, em Iporanga (SP). Crédito: Felipe Leal
Mais de 200 variedades agrícolas já foram trocadas nas feiras! Além das comunidades quilombolas do Vale do Ribeira, a feira tem recebido indígenas, agricultores familiares e interessados deste e de outros territórios, até de outros Estados. Pessoas da cidade conhecem a cultura quilombola por meio da feira.
Foto 5: Durante a feira, não falta boa comida feita pelos quilombolas, com os produtos da roça. Crédito: Cláudio Tavares/ISA
Em 2012 foi criada a Cooperativa dos Agricultores Quilombolas do Vale do Ribeira (COOPERQUIVALE), reunindo 16 comunidades dos municípios de Eldorado, Iporanga, Itaóca e Jacupiranga, para melhorar a comercialização da produção, dando autonomia e fortalecendo as comunidades (conheça a cooperativa - https://www.facebook.com/cooperativa.quilombola). Este ano, a captação de recursos para a realização do evento será feita via cooperativa, portanto esta vaquinha é feita com o apoio dela.
Foto 6: A sede da Cooperquivale é um ponto de venda de produtos quilombolas livres de veneno. Crédito: Fabiana Fagundes/ISA
A 12ª Feira de Troca de Sementes e Mudas das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira promoverá o resgate da cultura, valorização do território, valorização dos produtos da roça, das sementes, das mudas e da qualidade do modo de plantar sem usar veneno, típico do sistema agrícola tradicional.
Foto 7: Feira de sementes reúne diversidade de produtos e pessoas em Eldorado. Crédito: Cláudio Tavares.
Confira a programação prévia:
Dia 16 de agosto: Salão Paroquial de Eldorado, das 9h às 18h
Seminário e oficinas
Dia 17 de agosto: Praça Nossa Senhora da Guia, das 8h às 13h
12ª Feira de Troca de Sementes e Mudas das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira, com barracas das comunidades quilombolas e agricultores familiares, produtos da roça e apresentações culturais. Encerramento com delicioso almoço tradicional quilombola
Foto 8: Manifestações culturais, como a Nhá Maruca, do Quilombo Sapatu (Eldorado-SP) fazem parte da programação da feira de sementes. Crédito: Claúdio Tavares/ISA
Composição do custo da feira:
Divulgação: R$3.500,00
Infraestrutura: R$10.000,00
Despesas gerais: R$4.500,00
Alimentação para seminário: R$ 5.000,00
Transporte: R$10.000,00
Hospedagem: R$4.000,00
Colaboradores: R$5.000,00
Além de contribuir participando desta vaquinha, há outras formas de colaborar:
Se quiser doar em serviços ou materiais, ou se quiser mais informações sobre a feira, escreva para sementesquilombolas@gmail.com
Participando da feira: no dia do evento, é possível adquirir ticket para o almoço tradicional, contribuindo com o pagamento das despesas.
Quer saber mais sobre as roças? Assista aos vídeos:
1) Campanha #TáNaHoradaRoça:
https://www.youtube.com/watch?v=8rf21UdmQd4&list=PLuEinXoI0ID8fiGMh9PfMLEBvyxrqUDoX
2) Da Roça à Mesa: https://www.youtube.com/watch?v=zNhNJeV16O4
Saiba mais em https://www.facebook.com/trocadesementesdosquilombosdovaledoribeira/
Foto 9: Jovens do Quilombo Cangume, localizado em Itaóca (SP), durante a feira em 2018, pedem respeito às roças tradicionais quilombolas. Crédito: Cláudio Tavares/ISA