Recentemente, fui aprovado para o Mestrado em Performance na Hochschule der Künste Bern com Thomas Rüedi, um dos maiores nomes do eufônio no mundo, excelente solista, renomado professor e ser humano incrível. Em 2016, tive o prazer de conhecê-lo em um festival em Bogotá e reencontrei-o novamente em Atlanta dois anos mais tarde.
Sabendo que, no Brasil, apenas a UFRN tem um professor de eufônio (Fernando Deddos), porém não havendo ainda curso de mestrado em performance para este instrumento, Thomas me convidou para fazer a audição para Mestrado na universidade onde ele leciona em Berna.
Graças a Deus, com a ajuda direta e indireta de muitos amigos e professores e com muito esforço e dedicação diária, consegui ser aprovado para estudar com este professor que tanto admiro em uma universidade fenomenal.
Para receber meu visto de estudante (o qual nāo permite que eu receba autorização para trabalhar lá nos primeiros seis meses), preciso comprovar que tenho meios de subsistência. Porém, o custo de vida na Suíça é alto e não tenho família que possa me ajudar. Portanto, necessito da ajuda de vocês para realizar este sonho e poder futuramente me tornar outro professor de eufônio em uma universidade no Brasil, colaborando para o desenvolvimento da educação e para a manutenção da cultura em nosso país.
Reportagem com a Inter TV Cabugi (filiada da Globo no RN):
bit.ly/caionaglobo
Abaixo, segue uma pequena descrição do meu currículo e um pouco mais sobre minha história de vida.
Currículo:
Caio César da Silva iniciou seus estudos musicais informalmente na Banda Marcial 7 de Setembro coordenada pelo seu primo, tendo também passado pela Escola de Música José Ladislau Pimentel, na cidade do Cabo de Santo Agostinho, e pela Escola Técnica Estadual de Criatividade Musical (ETECM), posteriormente ingressando na UFPE para cursar música e, por fim, na UFRN, instituição na qual completou seu Bacharelado em 2019.
Durante esse tempo, Caio tem conseguido participar de diversos festivais nacionais e internacionais de música, em países como Colômbia, Argentina, Peru, Cuba e Estados Unidos, tendo tido aulas com professores de reconhecimento internacional como Thomas Rüedi (SWI), Steven Mead (UK), Misa Mead (JAP), Jukka Myllys (FIN), Tormod Flaten (NOR), Richard Demmy (EUA), Adam Frey (EUA), David Thorton (UK), Brian Bowman (EUA), Sebastian Rozo (COL), Fernando Deddos (BRA), Wilson Dias (BRA), James Gourlay (SCOT), Øystein Baadsvik (NOR), Sergio Carolino (PT), Sigfrield Jung (GER), Jeff Baker (EUA), Aaron Tindall (EUA), e Albert Katthar (BRA). No Brasil, tem como seu principal professor o eufonista Fernando Deddos, tendo recebido orientações também dos professores Flávio Gabriel, Durval Cesetti, Fabiano André, Michel José e Paulo Vitoriano Júnior.
Participou de diversos concursos de solistas no Brasil, Argentina, Colômbia e Estados Unidos, tendo recebido o primeiro prêmio no Concurso Nacional de Eufônio promovido pela associação de Eufônios e Tubas do Brasil (ETB) e o segundo prêmio no concurso de Jovens Solistas da Banda Sinfônica da UFRN; ganhou também a concorrida bolsa Earle L. Louder oferecida pelo Euphonium Tuba Institute. Participou da Banda Sinfônica da Cidade do Recife e da Banda Sinfônica do Centro de Educação Musical de Olinda durante 4 anos, da orquestra de frevo do Bloco Lírico Carnavalesco o Bonde e participou de gravações de CDs do Bloco Eu Quero Mais e Heleno Ramalho.
Caio César já apresentou-se em teatros e salas de concertos renomadas como: Teatro Municipal “1º de Mayo” (Santa Fé, Argentina), Donna & Marvin Schwartz Center for Performing Arts (Atlanta, EUA), Teatro Santa Izabel (Recife, PE), Teatro Procópio Ferreira (Tatuí, SP), Teatro Carlos Câmara (Fortaleza, CE), Sala Radegundis Feitosa (João Pessoa, PB), entre outras.
História de vida:
Sempre achei difícil falar sobre minha vida, mas um professor aqui na UFRN me aconselhou a deixar a vergonha de lado, pois disse que as pessoas precisavam conhecer toda minha história para saber quem elas iriam ajudar.
Vou resumir, porque são memórias muito difíceis que espero já ter superado. Espero que vocês não fiquem com todas essa histórias tristes na cabeça ao me verem como a pessoa que sou hoje. Quero ser conhecido por tudo que já conquistei e não pelas tragédias pelas quais passei.
Ainda quando bebê, aos 3 meses de idade, fui abandonado por meus pais. Minha bisavó infelizmente sempre me contava histórias horripilantes sobre eles. Uma das que ainda me lembro com profundo pesar é que ela teve que literalmente me resgatar de um saco de lixo para que eu pudesse estar aqui hoje.
Nascido no Cabo de Santo Agostinho, fui criado por meus bisavós, que eram descendentes de escravos, primos, tendo casado ainda quando adolescentes e tido 13 filhos. Com toda a dificuldade do mundo, eles se esforçaram para me oferecer uma boa educação. mas esta parte foi extremamente complicada para eles, por serem analfabetos. Não puderam me oferecer o tanto que gostariam, mas ofereceram o melhor que puderam.
Foi com meu bisavô com quem aprendi a fazer as 4 operações. Não sabia ele na época que eu ganharia várias competições de matemática, química e física no futuro. De fato, foi há apenas poucos anos que resolvi de fato me dedicar à música, mesmo contra a vontade de muitas pessoas que achavam que eu estaria desperdiçando minhas habilidades com as ciências exatas. Até eu mesmo cheguei a acreditar nessa história, mas acho que foi por meio da música que pude superar muitos dos meus traumas de infância.
Na minha escola, sofri muito bullying, por ser muitas vezes o único negro da turma, por ser o mais magro, por meus pais nunca terem ido a uma reunião da escola ou a festas dedicada aos pais. Quando criança, lembro que sempre chorava quando me perguntavam o nome do meu pai. Até hoje, não sei o nome real dele, nem por onde anda, ou se ainda é vivo.
Sobre minha educação, tem um fato muito interessante: por muito tempo não pude estudar legalmente, pois não tinha registro. Uma tia-avó, por quem tenho total admiração e respeito, tinha conseguido para mim, com muito "jeitinho brasileiro", uma vaga em uma escola onde sua amiga era diretora. Apenas muitos anos depois, em 2008, a escola entrou com uma ação judicial contra minha progenitora para que eu pudesse finalmente gozar do direito de ter um registro.
Antes de conseguir o registro, passei por um dos momentos mais turbulentos de minha vida, que foi o falecimento dos meus bisavôs. O meu bisavô faleceu em 2003, aos 71 anos, devido a um AVC, depois de ter trabalhado tanto tempo no corte de cana e posteriormente na construção civil. Minha bisavó faleceu depois devido a um câncer de mama.
Quando meus bisavós morreram, minha tia-avó, com toda dificuldade que tinha, depois de sofrer tanto com a perda dos pais, resolveu continuar me criando e me ajudou como pôde, sacrificando parte de seu pequenino salário para comprar bons livros para que eu pudesse estudar para o vestibular. Eu tinha um guarda-roupa cheio de livros!
A música sempre esteve presente em minha vida, pois todos os filhos dos meus bisavós, com exceção dos que morreram antes que eu nasci, tocavam algum instrumento ou cantavam. Muitos deles participavam da banda da escola do falecido Pastor Gessé, assim como todos os netos da Dona Liu (minha bisavó, lavadeira): todos tiveram esse contato com a música e eu, bisneto, na época um dos mais novos da casa, era apenas o curioso que, por falta de amigos, observava os amigos do meu primo, que passavam a tarde a estudar na frente da minha casa.
Logo, a casa dos meus bisavós virou sede de um projeto social chamado Banda Marcial Independente 7 de Setembro, que tinha por finalidade afastar os jovens do bairro da criminalidade. Esta banda tocou durante o funeral de minha avó e no cortejo até o cemitério. Foi uma das apresentações mais emocionantes de minha vida!
No ensino médio, fui para uma escola integral, onde conheci professores que considero como os pais que a genética não me deu e que me ajudaram a superar muitas dificuldades. Meu alto horn (instrumento conhecido como trompa cachorrinho) tinha sido destruído um dia ao voltar de um ensaio na escola de música de meu bairro, porém meu primo logo me deu um eufônio que eu nem tinha tamanho para segurar. Porém, como meu ensino médio era integral, tive que deixar a música um pouco de lado, mas sempre levava o meu instrumento para a escola. Meu professor de matemática me falava sobre o Conservatório Pernambuco de Música, onde sua filha estudava violino, e minha curiosidade me fez um dia ir até o centro do Recife procurar por este conservatório. Sem êxito e talvez por sorte, acabei encontrando o Centro de Criatividade Musical, que fica na Rua da Aurora e que futuramente seria a minha escola de música por uns dois anos, onde fiz alguns amigos e conheci excelentes professores.
Chegou o ano do vestibular. Tinha estudado muito porque queria ser lembrado por meus professores como um de seus melhores alunos. No ensino médio, ganhei várias competições de ciências exatas que minha escola organizava. Portanto, resolvi seguir essa área e entrei na UFRPE como aluno de química. Porém, como era muito longe de casa, e como eu também não conhecia os programas de assistencialismo que a universidade oferecia, acabei desistindo por falta de condições, sendo que isso me fez me reaproximar da música.
Fiz o teste para estudar eufônio no Centro de Criatividade Musical do Recife (atual Escola Técnica de Criatividade Musical). Fui aprovado e pouco tempo depois já me apresentava como musicista da Banda Sinfônica da Cidade do Recife e do Centro de Educação Musical de Olinda. Então, resolvi cursar música na faculdade e entrei na UFPE, o que me abriu outras portas: comecei a fazer gravações de frevo com Heleno Ramalho e para discos de alguns blocos líricos carnavalescos de Recife e Olinda, tendo assim minhas primeiras fontes de renda própria.
Na UFPE, não havia professor de eufônio. Então, quando soube que Fernando Deddos, o maior eufonista brasileiro, havia sido aprovado em concurso para a UFRN, não hesitei e logo me mudei para Natal, deixando para trás a minha tia-avó e todos os trabalhos que eu já havia conseguido em Recife. Desde então, tive que aprender a “me virar sozinho”. Logo antes de vir para Natal, consegui comprar meu primeiro instrumento em Natal do professor de trombone da UFRN e, algum tempo depois, comprei o meu atual instrumento, que custou todo o dinheiro que já havia conseguido juntar.
Meus últimos anos em Natal têm sido de muito trabalho e esforço. Com o auxílio de meus professores e amigos, tenho conseguido me desenvolver musicalmente e obter oportunidades com as quais não poderia sequer sonhar no passado. A maior oportunidade que surgiu foi justamente a aceitação para fazer esse Mestrado na Suíça com um dos maiores eufonistas do mundo. Tenho confiança em Deus que irei conseguir os recursos para poder tornar esse sonho realidade também.
Espero ser capaz de, no futuro, oferecer a muitos outros alunos o conhecimento, amor e ajuda incansável que tenho recebido de meus professores. Espero que a história dos meus primeiros anos de vida tornem-se uma pequena nota de rodapé de minha vida, que será repleta de vitórias e boas memórias. Para isso, necessito de sua ajuda. Obrigado.