Olá, me chamo Rogilene, tenho 28 anos e preciso da tua ajuda para realizar o meu sonho de estudar na Universidade de Coimbra, em Portugal! No dia 28 de julho, recebi a notícia que fui classificada para participar do Programa de Mobilidade Acadêmica em Regime de Dupla Titulação de Graduação em Direito – Faculdade de Direito da UFBA e Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, que terá duração de 02 (dois) anos, com início das aulas 11/09/2017. E desde então, vem buscando ajuda financeira das pessoas para garantir minha participação, uma oportunidade única, é a realização de um sonho, estudar pela primeira vez no exterior e compartilhar experiências com estudantes do mundo todo.
Através desta mobilidade acadêmica poderei obter a graduação em ambas as Universidades (UFBA/Coimbra), Dupla Titulação, que me possibilitará exercer a profissão nesses dois espaços (brasileiro e europeu).
Nasci na periferia do subúrbio ferroviário de Salvador, de origem humilde sempre estudei em escolas públicas, enfrentando todas as dificuldades e limitações do ensino público, como aulas canceladas por diversas vezes, dentre os motivos, falta de água, merenda escolar, falta de professores, e a intensa violência na comunidade sob a conseqüência da guerra do tráfico.
Sou a segunda filha de três, minha mãe é doméstica, nunca teve a carteira assinada, meu pai é feirante, semianalfabeto, dependente químico desde seus 14 anos. Mesmo assim, quando a falta de oportunidade tentou barrar meu futuro, eu criei minhas próprias oportunidades. Durante o Ensino Fundamental e Ensino Médio, eu já me incomodada com as circunstâncias sociais do meio em que eu morava, minha mãe mesmo sem estudo e presa num casamento cheio de abusos e violência, sempre me ensino que só através dos estudos conseguiríamos mudar nossa triste realidade, nos conscientizando que “o livro é um passaporte”, no qual posso afirmar, é uma ferramenta que transforma vidas, transformou a minha.
Apesar de uma infância tão difícil, agradeço a Deus pela força em prosseguir, que deu a minha mãe, por nunca desistir de mim e minha duas irmãs, pelo contexto desestruturado em que ela vivia, poderia ter nos dado para alguma outra família nos criar, e ainda assim, não o fez. Mesmo com todo sofrimento, nunca lhe faltava um sorriso no rosto, diante do que sofria ao lado do meu pai. Eu me questionava: como uma pessoa pode oferecer um sorriso tão doce vivendo uma situação tão precária?
No 3º ano do Ensino Médio, descobri um cursinho pré-vestibular comunitário, num bairro vizinho, incentivada por minha irmã mais velha, que sempre foi muito dedicada aos estudos, desde criança tinha paixão pelos livros. No entanto, a idéia de entrar num cursinho não saiu de minha cabeça, mas não poderia me inscrever porque não tinha o dinheiro de transporte para o deslocamento, mas eu não poderia deixar que esse obstáculo me impedisse de progredir. Juntei todos os recursos que eu tinha uma bicicleta velha, e assim, começava minha jornada para ingressar na Universidade Federal da Bahia.
Foram três anos de tentativas frutadas, aprovada na 1ª (primeira) fase e reprovada na 2º (segunda fase), vestibular esse com uma prova de alto nível e cruel com os alunos que estudaram a vida toda em escola pública, onde mal têm aulas de português e matemática, dirás professores dispostos a enfrentar a violência e o tráfico dentro das escolas, evidenciando-se um ensino deficiente e precário. Nessa altura, minha irmã mais velha já colhia frutos da sua dedicação aos estudos, pois pontuou uma excelente nota no Enem e conseguiu uma Bolsa Integral pelo PROUNI para o curso de Administração de Empresas.
Eventualmente, descobri que no vestibular anterior fui aprovada no curso de comunicação na UFRB, mas infelizmente de forma tardia, tinha 50 vagas e meu nome saiu na segunda chamada (eu fiquei no 51º lugar). Tomada por uma profunda tristeza e dor de ver meu sonho escapado das minhas mãos, decidi que não mais tentaria ingressar no ensino superior. No ano seguinte fui convencida por um primo a prestar novamente o ENEM, para o Bacharelado Interdisciplinar (BI), uma proposta nova da UFBA pelo REUNI. Fui aprovada e cursei 05 semestres do BI de Artes, mas não me sentia completa, apesar de ter obtido, através deste curso, a experiência de sala aula e, assim, minha paixão pela Educação. Eu pensei muito na questão de que eu ia demorar muito mais tempo pra me formar, faltava somente um ano para colar grau no BI de Artes, foi uma decisão difícil, mas precisava descobrir qual seria minha real função na sociedade.
Seguindo conselho de um amigo da faculdade, e encorajada por ele, prestei novamente o ENEM, e migrei para o curso de BI de Humanidades. Ao ver minha turma do BI de Artes formar fui tomada por uma profunda triste e incerteza, mas, com o passar do tempo, fui compreendendo que precisava passar por todo esse processo de mudança para minha construção como pessoa, e, sobretudo, como uma agente social.
Ao migrar para o curso do BI de Humanidades, ingressei na área de concentração de Estudos Jurídicos, com intuito de obter respostas para alguns questionamentos que até então me incomodavam, como a questão do real papel do Poder Judiciário, do Acesso à Justiça e da garantia dos Direitos Fundamentais. Em 2015 me formei e ingressei no curso de Direito noturno, começando uma nova fase de minha vida, na esperança de construir um Direito mais justo e acessível a todo e qualquer cidadão, sem distinção de classe social ou cor.
Eu e minhas irmãs tivemos que começar a trabalhar muito cedo, aos sete anos de idade, com uma infância dura e sem perspectivas. Sonhar em ter o que comer no dia seguinte era o que nos restava. Todos os domingos nós íamos vender água e lanche na Feira do Rolo, mais conhecida como “Feira do Pau”, localizada na Baixa do fiscal, onde o clima do tempo era quem definia se nós teríamos o que comer no jantar.
Quando chovia as vendas eram quase zero, toda mercadoria era trazida para casa, íamos e voltávamos empurrando o carrinho de mão pesado, trazendo até hoje em minhas mãos as marcas desses tempos sofridos. Muitas vezes, minha mãe chegou a desmaiar de fome e cansaço, enquanto meu pai passava o dia se drogando.
Eu sempre acreditei que era possível ultrapassar as barreiras da pobreza e da fome, me vejo como um exemplo de superação para as pessoas que se identificam com minha história, e que não desistam dos seus sonhos, tudo é possível com estudo, perseverança e determinação.
Atualmente estou cursando o 7º semestre do Direito da UFBA, minha irmã mais velha, Rogiene Batista (31), é Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Controladoria e Contabilidade (FEA-USP), no qual durante o ano passado concluiu o Mestrado, aprovada com grande mérito, e teve sua dissertação indicada para o Prêmio "Melhor Tese" e "Melhores Dissertações", do CRC (Conselho Regional de Contabilidade) de São Paulo, e recentemente teve a publicação do seu artigo intitulado Risk management and value creation: new evidence for Brazililian non-financial companies, no periódico Applied Economics Incorporating Applied Financial Economics, classificado como A1 pelo Qualis-CAPES. Minha irmã mais nova, Rosângela Maria (23), cursa Engenharia Ambiental na UFBA, após finalizar o curso técnico no IFBA, e minha mãe conseguiu terminar seus estudos, e se formou em Técnica de Enfermagem, no ano de 2016.